O bairro do Rio Vermelho, em Salvador, consolidou-se como um espaço multicultural e de efervescência artística, reunindo práticas que reforçam a herança afro-brasileira. Entre as manifestações mais expressivas está a Festa de Yemanjá, um dos maiores eventos do calendário cultural baiano, que une tradições populares de pescadores ao culto do Candomblé, reafirmando a força das religiões de matriz africana no espaço público (SALVADOR CAPITAL AFRO, 2025).
Nas artes cênicas, o Teatro Griô se destaca ao inspirar-se na tradição oral africana e nos contadores de histórias, promovendo oficinas e espetáculos que conectam ancestralidade e contemporaneidade. No campo das artes visuais, obras como o Cetro da Ancestralidade, de Mestre Didi, localizado na Praia da Paciência e voltado simbolicamente para a África, fortalecem o vínculo com a espiritualidade e a memória negra. Já artistas como Ed Ribeiro, responsável pela revitalização da fachada da Casa de Yemanjá, reafirmam no espaço urbano a presença da estética afro-brasileira (SANTOS, 2013).
A música e a dança, sobretudo através do samba, da percussão e da música popular baiana, circulam nos largos e praças, reafirmando tradições afrodescendentes que marcam a identidade de Salvador. A gastronomia, representada pelas quituteiras do acarajé, também integra esse circuito cultural e turístico, consolidando-se como patrimônio imaterial (NUSSBAUMER, 2013).
Nesse mesmo território, o INCAB – Instituto Nzinga de Capoeira Angola e Tradições Educativas Banto – representa um marco na preservação e reinvenção da capoeira angola. Com mais de três décadas de atuação, conecta Salvador a diversos núcleos no Brasil e no mundo, articulando rodas, oficinas, publicações, produções musicais e eventos que aliam tradição, pesquisa e luta por direitos humanos. Liderado por mestras e mestres como Janja, Paulinha, Tião de Carvalho, Manô e Taata Mutá Imê, o INCAB ultrapassa a prática da capoeira e se insere nos debates antirracistas, de gênero, de memória e de políticas públicas (SANTOS, 2013).
Os Ilês e Casas de Axé do bairro também evidenciam que a espiritualidade afro-brasileira é prática de cuidado e resistência social. O Ilê Omo Omi Ejá Asé Baru, por exemplo, por meio do projeto Asé Solidário, leva alimento, dignidade e acolhimento às pessoas em situação de rua, unindo fé, ancestralidade e compromisso comunitário. Já o Ilê Axé Omi Ejá Wúra, o Ilê Axé Opo Oluwaye Alagim e o Ilê Axé Obá Nirê fortalecem religiosidade, ensino e memória coletiva, consolidando-se como espaços de partilha de saberes ancestrais e de valorização das tradições nagô e banto.
A Casa de Yemanjá, situada no Rio Vermelho, é outro espaço emblemático. Além de sua relevância espiritual, especialmente no contexto da Festa de Yemanjá, constitui-se como ponto de encontro entre arte, religiosidade e identidade afro-brasileira. Sua fachada, revitalizada por Ed Ribeiro, materializa no espaço urbano a presença simbólica da orixá das águas e reafirma sua força protetora sobre a comunidade (SALVADOR CAPITAL AFRO, 2025).
Assim, o Rio Vermelho se configura como um território simbólico da cultura afro-brasileira, no qual arte, religiosidade, oralidade, música, culinária e solidariedade se entrelaçam, fortalecendo a memória coletiva e a identidade cultural da Bahia (SANTOS, 2013; NUSSBAUMER, 2013; @SALVADORCAPITALAFRO, 2025).
Referências
SANTOS, Julia Torres dos. Produção e consumo cultural no bairro do Rio Vermelho – Salvador/BA. 2013. 120 f. Dissertação (Mestrado em Cultura e Sociedade) – Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013.
NUSSBAUMER, Gisele Marchiori. Orientadora da dissertação de mestrado de Julia Torres dos Santos sobre produção e consumo cultural no Rio Vermelho. Salvador: UFBA, 2013.
SALVADOR CAPITAL AFRO – RIO VERMELHO. Memória e religiosidade afro-brasileira no bairro do Rio Vermelho; destaque para a Festa de Iemanjá como expressão cultural ancestral no território. Salvador da Bahia, 2025. Disponível em: https://www.salvadordabahia.com/capitalafro/experiencias/salvador-capital-afro-rio-vermelho/. Acesso em: 9 set. 2025.
@SALVADORCAPITALAFRO. Perfil oficial do movimento Salvador Capital Afro, que promove o afroturismo e valoriza as experiências culturais afrocentradas em Salvador, incluindo ações no Rio Vermelho. Instagram, 2025. Disponível em: https://www.instagram.com/salvadorcapitalafro/. Acesso em: 9 set. 2025.
GOOGLE MAPS. Pesquisa com a palavra-chave “Ilê” na região do bairro Rio Vermelho, Salvador – BA. Realizada em 9 set. 2025.